quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

História, memória e fotografia

upload feito originalmente por Grazi Oliveira.

Para a história, a fotografia assume um papel restaurador da memória, cumprindo a função de arquivar lembranças, no entanto, também adquire traços poéticos bem peculiares, colocando a fotografia em posição privilegiada nos debates acerca da memória. Ela apresenta imagens precisas, definidas, uma vez que depende do objeto real diante da superfície fotossensível, fornecendo, assim, provas, contudo carrega consigo a simbologia que deriva do referencial; afirma que o que foi fotografado realmente esteve lá, mas foi afastado; é o legado do passado ao presente, a demonstração daquilo que foi escolhido para ser posteriormente mostrado. E apesar de ser uma fonte não verbal, elas comunicam, expressam, significam, dão força para a memória social ao remeter à uma realidade transcorrida no tempo e espaço, representam algo que já não mais existe, mostra-nos a ausência, desencadeia-nos lembranças passadas, ativando a memória e nos transportam, no caso do trabalho de Larissa, à nossa infância. Neste contexto, Boris Kossy faz uma colocação interessante:

“Os homens colecionam esses inúmeros pedaços congelados do passado em forma de imagens para que possam recordar, a qualquer momento, trechos de suas trajetórias ao longo da vida. Apreciando essas imagens, ‘descongelam’ momentaneamente seus conteúdos e contam a si mesmos e aos mais próximos suas histórias de vida. Acrescentando, omitindo ou alterando fatos e circunstâncias que advêm de cada foto, o retratado ou o retratista têm sempre, na imagem única ou no conjunto das imagens colecionadas, o start da lembrança, da recordação, ponto de partida, enfim, da narrativa dos fatos e emoções (KOSSOY, Boris)”.

O descompasso entre presença e ausência, distância e proximidade, reconhecimento e lembrança são objetos de estudo das imagens fotográficas, que encontram, neste contexto, sua ação e dinâmica. Isso faz com que percebamos a “qualidade mental” ancorada à fotografia, na qual se depositam a memória.

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A fotografia atua como importante recurso mnemônico, que conduz o observador ao representar o cotidiano, contudo, as imagens não são produzidas somente pela máquina, e sim, pelas escolhas do fotógrafo, que impõe seus valores, sua interpretação de mundo. A delimitação do assunto, do enquadramento e o momento do disparo são intervenções humanas passíveis da observação do fotógrafo. A presença é o que está retratado, ficando a ausência em detrimento. Entretanto a autora ultrapassa estes conceitos a partir do momento em que retrata precisamente as ausências. Com suas fotos não é possível construir a representação da imagem que as pessoas mostram de si mesmas, tampouco das realidades as quais estão inseridas. Pode-se sim buscar em seus retratos a representação do cotidiano e a reinvenção do sujeito, guiando o observador na construção da memória, conduzindo a busca por uma identidade, fazendo com que seja investigado o ausente. Sobre este assunto tem-se a afirmação de José de Souza Martins:

“O imaginário se tornou personagem da história contemporânea. É preciso imaginar a imagem para poder ver nela o que de fato ela quer dizer, para construir a sua indicialidade (MARTINS, José de Souza. A epifania dos pobres da terra. In OLIVEIRA, Rogério L. S. e FARIAS, Edson S.).”

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