sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Grécia

Democracia, teorema de Pitágoras, colunas e frontões... Ligada de muitas maneiras às civilizações clássicas, nossa sociedade demonstra grande interesse por diversos aspectos culturais da Grécia.
Tendo como centro desta civilização a Península Balcânica, os deslocamentos populacionais devido a condições físicas desfavoráveis, solo empobrecido e clima com temperaturas extremas, favoreceram a expansão grega por outras terras.  Composta por regiões continentais como o Peloponeso e Ática, ilhas como a de Creta, formaram colônias no lado oriental do Mar Egeu, atual Turquia, Sicília e Itália, e também no Mediterrâneo ocidental, como Marselha, França. A Grécia não era um país conforme as definições atuais, para eles, seu país estava onde existissem gregos.
Formada por diferentes povos, vindos de diferentes lugares, a Grécia absorveu o que havia de melhor em cada um deles. Jônios, Aqueus e Dórios, entre outros, trouxeram suas experiências no comércio marítimo, metalurgia do ferro, cerâmica, construções de palácios, escrita... A Grécia clássica como conhecemos hoje é herdeira de avanços e conhecimentos aprendidos e adaptados de outras civilizações. Possuía uma unidade cultural básica, porém com variações de acordo com as regiões e influências estrangeiras.
O que ocorreu foi uma grande mistura de povos e seus elementos culturais, formando, lentamente, uma nova civilização que se estende para onde e como puder, mostrando a capacidade de adaptação e dinamismo dos gregos.
O mundo grego era constituído por inúmeras cidades – polis – definida por seu povo – demos – submetido aos mesmos costumes e religiosidade. As cidades compreendiam várias tribos, divididas em frátrias e estas em clãs, por sua vez compostos de muitas famílias. Os que não pertenciam a estes grupos eram considerados estrangeiros, não tinham direito nem proteção. Sua economia baseava-se inicialmente na agricultura e pecuária. Com a expansão grega prosperou o comércio marítimo, introduzindo o uso da moeda como facilitador nas trocas, e o artesanato, na produção de armas e cerâmica.
 As terras pertenciam a ‘nobres’, que administravam também o poder político e judiciário, em lugares onde prevalecia o regime aristocrático, como é o caso de Esparta. Além desses nobres, a sociedade era composta por servos, artesãos e pequenos proprietários.
Principalmente em cidades marítimas e voltadas ao comércio, ocorreram guerras civis, em que o povo reivindicava por maior participação nas decisões políticas. Foi atribuída a alguns homens de boa reputação, chamados de tiranos, a tarefa de redigir leis, ampliando os direitos políticos dos cidadãos. Estas transformações tenderam à democracia e temos como exemplo a cidade de Atenas.

ESPARTA

Sem grandes destaques no comércio, devido a sua localização de difícil acesso, Esparta possuía terras férteis, ideais para o plantio de cereais, oliveiras, vinhas e pastagens.
Localizada no sudeste da península do Peloponeso, foi fundada por Dórios que também conquistaram outras localidades. Os Espartanos eram proprietários de terras cultivadas por famílias de hilotas – servos vindos de cidades por eles dominadas – que não eram escravos, formavam uma comunidade à parte, e por diversas vezes se revoltaram.
O poder em Esparta era concentrado nos dois reis da cidade assim como num pequeno número de dirigentes que compunham a Gerúsia (espécie de senado), formado por 28 anciãos, cujos poderes não eram muito grandes.
Todos os homens eram proibidos por lei de trabalharem para se dedicarem exclusivamente à carreira militar. Desde meninos tinham uma educação militar rígida, aos sete anos saíam de casa, a fim de receberem um treinamento voltado às guerras. Este sistema teve por conseqüência uma forte disciplina, um exército poderoso e a falta de criatividade em desenvolver indústria e artes.

ATENAS

Outra grande cidade grega, muito mais dinâmica que Esparta, e bem mais conhecida por historiadores e arqueólogos, é Atenas. Tinha o solo pouco fértil, produzindo trigo e cevada que nem sempre era suficiente para sua população. Em suas colinas, plantavam oliveiras e uvas, resultando numa indústria de azeite e vinho. Também desenvolveram a mineração de prata e o comércio marítimo teve destaque devido ao porto de Pireu.
Por muito tempo, Atenas viveu sob domínio aristocrático, no qual as terras pertenciam a poucos, os ‘eupátridas’. Os pobres, pequenos camponeses e artesãos, sempre em dificuldades, acabavam por serem escravizados em função de suas dívidas. O poder econômico de Atenas cresceu, fazendo com que parte da população, em geral comerciantes, se beneficiasse desta melhoria em sua condição de vida, gerando, lentamente, o fim do regime aristocrático. Para isso foi preciso muitas lutas populares, em que terras foram confiscadas dos nobres, aumentando o número de pequenos proprietários, mudando o sistema de voto e representação política, a partir do qual todos os cidadãos alistados em um ‘demos’ poderiam votar em assembléia, entre outros.
Este regime político tornou-se plenamente desenvolvido com Péricles (aproximadamente em 469 a.C.). É neste período que cargos políticos tornaram-se acessíveis à população e palavras como justiça e liberdade permearam o imaginário ateniense.
A democracia surge em Atenas, onde todos os cidadãos podem participar das assembléias do povo, as ‘Eclésias’, que ocorriam em praças públicas cerca de dez vezes ao ano, sendo suas decisões inapeláveis, porém antes passavam por um conselho, o ‘Bulé’, quando eram então comentadas e emendadas sempre que necessário. Faziam parte da Bulé quinhentos senadores, sorteados entre os que se candidatassem, porém deveriam ser cidadãos, com no mínimo trinta anos de idade.
Por cidadão lê-se homem, maior de dezoito anos, filho de pai e mãe ateniense. Escravos, estrangeiros, assim como mulheres e crianças atenienses não tinham direitos políticos. Camponeses e pequenos artesãos podiam usufruir da democracia ateniense, a participação política abrangia um número significativo de homens, desde os mais modestos até os que possuíam grandes fortunas.
Os ‘metecos’, estrangeiros, pagavam taxas especiais e prestavam serviço militar além de pagarem impostos. Eram responsáveis por boa parte do desenvolvimento e prosperidade de Atenas, atuando em diversas profissões, exercendo grande parte das atividades econômicas, artesanais e comerciais. Muitos se destacavam como artistas e intelectuais. Os escravos, em sua maioria, eram prisioneiros de guerra, sendo eles gregos ou não.
A experiência de democracia ateniense serviu de inspiração para todos que defenderam a liberdade política e o governo do povo, mesmo muitos séculos depois.

Havia muitas diferenças entre homens e mulheres da Grécia antiga. Quando meninas, tinham pouco contato com meninos e seus brinquedos remetiam à idéia da vida adulta, cuidados com a casa, filhos, etc, enquanto os meninos brincavam de lutas, antecipando sua vida no exército. Na adolescência elas participavam de cerimônias que preparavam para o casamento; eles iniciavam no serviço militar, caçavam e recebiam educação suficiente para administrar assuntos públicos. Os homens eram  preparados para participarem de competições atléticas, musicais e para falar em público. Todos, independente da classe social, tinham direito à educação.
As meninas casavam aos 12 anos de idade aproximadamente e tornavam-se donas de casa. Para os homens, o casamento se dava com 35 anos de idade, geralmente. O marido transmitia alguns conhecimentos à esposa, a começar pela administração da casa. Em geral, as mulheres viviam confinadas em cômodos destinados somente a elas, os chamados ‘gineceus’, enquanto os homens participavam da vida pública.

A cidade era composta por partes: na Acrópole, localizada em uma colina, mais próxima do céu, ficavam os locais sagrados e cívicos, uma parte alta, representando a cidade como um todo, com os edifícios mais importantes e na porção mais baixa, localizavam-se o mercado e a Ágora (praça). Cercando a Acrópole e a Ágora, uma grande muralha protegia a zona urbana; ao redor, o campo, com suas propriedades rurais. Todo este conjunto era chamado de Polis.
Na Grécia havia uma distinção entre a vida pública e privada, porém não como conhecemos hoje. A vida pública era essencial, inclusive para a definição de identidade das pessoas, ela implicava na participação dos assuntos da cidade, era compreendida pela participação em assembléias e no exército. Os homens acabavam dedicando-se pouco à vida familiar em detrimento à vida pública. Mulheres, crianças, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos, portanto não participavam.
Cada cidade tinha sua própria constituição. Em geral algumas características eram comuns a todas, como o direito divino, o que havia sido estabelecido pela tradição, o que os homens não podiam mudar e as leis feitas sobre a vida em sociedade.
Havia diferenças de status e estilos de vida também. Os bem nascidos, eupátridas, viviam com sofisticação, promovendo banquetes regados a vinho e discussões político-filosóficas, dedicavam-se ao ócio, compreendido na época como liberdade para participar da vida pública, refletir sobre o mundo e participar de conversas estimulantes. Os outros cidadãos, camponeses, viviam com muita simplicidade, em famílias onde todos trabalhavam para garantir sua sobrevivência.

Havia na Grécia diversos tipos de relações sexuais e amorosas bem aceitas por todos; eles não sentiam culpa nem encaravam o sexo como algo cientificamente analisável, pois sexo era ligado à natureza, ao divino. Tanto que existiam diversos deuses ligados à sexualidade e ao amor.
Os ideais de beleza eram muito diferentes dos nossos, os homens procuravam mulheres sem defeitos físicos e com certa robustez, o que possivelmente permitiria bons partos, pele clara significava que ela não trabalhava ao sol, e a timidez era valorizada. Nos maridos era valorizada a força, coragem e inserção social. Isto entre a elite, pois para os cidadãos mais simples, o casamento era uma forma de unir famílias, propriedades, assim como uma maneira de sobreviver trabalhando em conjunto.
Entre os gregos existia o chamado ‘amor nobre’, baseado em afinidade de idéias, na relação de aprendizado, entre professor e aluno, ocorriam relações sexuais entre adultos e meninos, sem que houvesse culpa, pois esta prática era comum entre a elite grega. Estes homens não deixavam de se relacionar com mulheres. Antes do casamento mantinham relações com as ‘hetairas’, assim como outros homens que participavam dos banquetes.
Os casados se preocupavam com a reprodução da família, mas também mantinham relações sexuais com os escravos, sendo eles homens ou mulheres.
Apesar de nem todos terem o mesmo comportamento sexual, não havia reprovação moral a relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo, uma vez que o desejo era visto como algo divino. Eram criticados os casos de descontrole, como se deixar levar pelos desejos sexuais de uma paixão incontrolável ou o desequilíbrio que levava o homem a adquirir modos efeminados.

A religiosidade grega unificava cidades com costumes tão diversos. Seus deuses eram muito próximos aos homens e à Terra. Eles interferiam diretamente na vida de mortais, comandando a natureza e participando da vida dos humanos. Os deuses comportavam-se como homens; o que os diferenciava era sua imortalidade.
Cultos ocorriam em dois níveis: o doméstico, variando bastante e correspondendo a sentimentos íntimos, é mais liberal, já o público tinha caráter oficial, representando o espírito patriótico, evoluindo de forma mais lenta.
Narrativas fantásticas, com muitas aventuras eram passadas de geração a geração, oralmente, acerca de deuses e suas façanhas. Estes relatos, também conhecidos como mitos, foram registrados posteriormente, redefinidos e aprimorados; evoluíram e se adaptaram a todo o período da civilização grega e nos servem como fonte de conhecimento sobre o pensamento e cultura deste povo.

No período arcaico (Séc. VII e VI a.C.) houve grande intercâmbio de ideias entre os gregos, egípcios e mesopotâmicos. Na Jônia e Magna Grécia, pensadores se ocuparam com temas como a origem do mundo, a verdadeira realidade, a unidade por detrás das aparências. O objetivo era explicar o mundo através da razão, deixando de lado os mitos e deuses, identificando princípios e estabelecendo ordem para fenômenos naturais e sociais a partir de reflexão sobre experiências cotidianas.
Homens ativos, práticos e interessados aproveitaram para analisar, criticar e criar, surgindo assim o pensamento racional e a Filosofia, para ampliar o conhecimento sobre a realidade. Buscando estabelecer leis que explicassem o funcionamento do universo, surgiu a ciência grega, marcando uma mudança importante, centrando a capacidade de pensamento aos homens, sem depender diretamente dos deuses. Surgiram nomes como Tales, de Mileto e Pitágoras, de Samos, que desenvolveram a Geometria e Hecateau, de Mileto, que dedicou-se à  Geografia.
Idéias que colocaram o homem no centro das atenções foram revolucionárias e com um grande potencial libertador, dando a capacidade de entender que foram estes homens que criaram os deuses a sua imagem e semelhança e não o contrário.
A nova vida cultural e material das cidades possibilitou o desenvolvimento de uma nova forma de pensar o mundo. Foi em Atenas que Sócrates, Platão e Aristóteles buscavam suas verdades, faziam questionamentos, viajavam para o mundo dos pensamentos. Estes filósofos trouxeram os fundamentos para todas as formas de pensamentos posteriores, até os tempos Modernos, suas idéias transcenderam, tornando-se instrumentos do conhecimento.

Não só na Filosofia que o homem passou a ser o centro, o referencial. As artes também o tinham como parâmetro e buscavam nele toda a proporcionalidade das partes em relação ao todo. A beleza consistia na analogia com as proporções humanas.
A arquitetura utilizava-se de pedras e mármores. Foi desenvolvida uma linha arquitetônica muito peculiar, com colunas e frontões extremamente característicos de cada uma das principais ordens gregas: a dórica, com colunas sem base e com capitel curvo, linhas muito limpas; a jônica já apresenta base e tem no capitel duas volutas; a coríntia já era mais rebuscada em seu capitel, com volutas e relevos com desenhos de folhas principalmente, e com frontão muito detalhado, com ilustrações de mitos nele representado.
Tinha como principais edifícios os templos, tendo como exemplo mais popular o Parthenon, além dos teatros e ginásios. A arquitetura e o teatro serviram de modelo para os romanos e posteriormente para toda a cultura ocidental.
Inicialmente, a escultura procurou representar os grandes momentos dos homens, posteriormente seus movimentos e os indivíduos, representando pessoas concretas, com sua fisionomia e traços particulares.

A Guerra do Peloponeso, entre Atenas e Esparta (431 a 404 a.C) iniciou o declínio das cidades gregas independentes com a derrota de Atenas. Esta luta foi resultado da disputa por controle político das cidades e, mesmo após o fim da guerra, muitas batalhas continuaram ocorrendo, enfraquecendo as cidades e trazendo a ruína para camponeses e artesãos.
Estas disputas se mantiveram até que Felipe, da Macedônia começou a conquistar algumas destas cidades e seu filho, Alexandre, o Grande, dominou toda a Grécia, os persas, chegando até a Índia. Criou assim um império imenso, onde conviviam diversos povos, com dezenas de línguas, governados por uma elite macedônica. Neste período foram fundadas várias cidades com seu nome, como Alexandria, no Egito. Esta civilização, conhecida como helenística, destaca-se por sua vida intelectual intensa, pela convivência de muitos povos e pelas trocas culturais.
Com a morte de Alexandre, o império desintegrou-se, dividindo-se em três reinos centrados na Macedônia, Egito e Mesopotâmia. Entretanto as cidades gregas continuaram a existir até serem incorporadas ao domínio romano, porém mantinham uma impressionante fidelidade à sua cultura.

Podemos notar que nossa sociedade é inspirada, em diversos aspectos, na sociedade grega. A democracia, arquitetura, ciências, filosofia, artes, mitologia, jogos olímpicos, estão presentes em nosso cotidiano e remetem a uma cultura atemporal, uma herança viva, presente e importante, que sobrevive aos avanços e às mudanças constantes que a modernidade nos impõe.

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