quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ARQUEOLOGIA

“O passado vem à tona no trabalho dos arqueólogos,
capazes de compreender as vozes fracas
que atravessaram os tempos
 em vestígios materiais.”



A palavra ARQUEOLOGIA tem origem grega, em que “Archaios” significa passado/antigo e, “Logos” significa ciência/estudo. Somando-se estas duas palavras, podemos definir a Arqueologia como a ciência que estuda o passado. Ela é imprescindível para investigar os agrupamentos humanos ágrafos (sem escrita), ou qualquer outra sociedade extinta, sua importância para a antropologia é imensa.
Através do estudo arqueológico a antropologia pode conseguir informações acerca dessas sociedades, das quais a maioria não podem ser observadas e estudadas através de técnicas etnográficas normais, pelo fato das mesmas não existirem mais, nem deixaram vestígios escritos. Sendo que mesmo muitos vestígios escritos de sociedades extintas que temos hoje para estudo foram descobertos através de escavações arqueológicas, como tábuas de argila com escrita cuneiforme da Mesopotâmia. 
Os registros arqueológicos são formados pelo resultado da ação do homem em criar ou destruir materiais que chamamos de artefatos. Estes elementos deixados no solo (cerâmicas, artefatos líticos, adornos, mapas, textos, fotografia, monumentos, construções ou qualquer outro objeto) foram-se acumulando com o passar do tempo, formando pistas que permitem ao arqueólogo remontar a vida destes povos.
A Arqueologia está se diversificando cada vez mais e, ao contrário do que se pensa, ela não estuda apenas o passado remoto da Humanidade. Nas Américas, convencionou-se chamar de Arqueologia Histórica a pesquisa feita em locais ocupados pelos europeus e africanos que entraram em contato com os indígenas durante o processo de colonização. Assim, estudos vêm sendo desenvolvidos permitindo que se conheçam inúmeros aspectos do cotidiano que, via de regra, não constam dos documentos oficiais.
Atua também junto a sociedades atuais (como grupos indígenas, negros ou caiçaras), buscando compreender, através da observação do presente, a maneira como os vestígios materiais podem informar sobre o comportamento e os padrões culturais de sociedades extintas. Esse tipo de pesquisa é denominado Etnoarqueologia, constituindo um campo de investigação extremamente rico e promissor em locais que ainda abrigam um grande número de sociedades tradicionais.
Uma vez que a Arqueologia lida com o complexo jogo de dados que constitui a História humana, as equipes de pesquisa contam com especialistas de diferentes áreas: zoólogos, geógrafos, geólogos e antropólogos físicos, entre outros. Pela mesma razão, o arqueólogo lança mão de procedimentos e análises desenvolvidos em outras áreas de conhecimento, como a matemática, a física e a química.


PROFISSIONAL:

A imagem do profissional em arqueologia mais difundida é a de seu trabalho nas escavações, porém seu trabalho é muito mais complexo e extenso. Ele necessita interpretar os vestígios materiais que encontrou, contextualizá-los e cruzar informações com uma grande variedade de áreas, utilizando uma abordagem interdisciplinar, de modo que encontre respostas que possa construir  conhecimento a respeito das sociedades que estuda.
A partir desta ciência, este profissional identifica objetos que pertenceram aos povos do passado, como: fragmentos de cerâmica, ferramentas em pedra, instrumentos de caça e pesca, restos de alimentos, ossos, restos de habitações, dentre outros achados. 
Com base na análise minuciosa desses vestígios, é possível obter informações sobre as culturas antigas, reconstituindo aspectos socioculturais e ambientais da vida dessas populações. 
Estas informações permitirão resgatar dados referentes às primeiras formas de organização social e do espaço, da economia, das manifestações culturais e dos aspectos políticos de grupos que ocuparam uma determinada área no passado longínquo (pré-colonial) ou não muito distante (colonial). 
Durante muito tempo a imagem do arqueólogo ficou associada ao pesquisador que estuda os dinossauros. Mas esta função não diz respeito ao arqueólogo, e sim ao paleontólogo (profissional que se dedica ao estudo dos animais e vegetais fósseis). Enquanto o arqueólogo busca entender como viveram as sociedades em períodos passados, o paleontólogo se preocupa em reconstituir a vida dos animais extintos há milhares de anos.
Para realizar seu trabalho, o arqueólogo lança mão de diversos procedimentos. Em campo, identifica e escavar sítios arqueológicos, onde documenta estruturas e coleta objetos que pertenceram ao cotidiano de uma determinada sociedade. Em seguida, inicia a fase de estudos e trabalhos sistemáticos em laboratório, onde procura relacionar os objetos coletados ao grupo que os produziu e ao seu modo de vida. A pesquisa arqueológica exige muito esforço e dedicação em campo, mas não afasta um trabalho intelectual intenso em laboratório.
As responsabilidades do arqueólogo vêm aumentando a cada dia, já que ele é incumbido de resgatar e conservar a herança cultural humana, lidando com um patrimônio tão frágil e finito quanto os próprios recursos naturais existentes em nosso planeta.

O profissional da área de arqueologia pode trabalhar em:
• Pesquisa, realizando estudos para institutos de pesquisa, museus e universidades para identificar traços da cultura e dos costumes de antigas civilizações;
• Universidades, lecionando em cursos de graduação e pós-graduação (mestrado e doutorado) e orientando teses dos alunos;
• Em preservação e recuperação do patrimônio histórico — prédios ou regiões tombadas como patrimônio histórico e cultural da União;
• Prestação de serviços em assessoria e consultoria para empresas — na área de engenharia, para coleta de objetos arqueológicos em áreas onde poderão ser realizadas grandes obras, como estradas e hidrelétricas;
• Em empresas ligadas à preservação do patrimônio histórico.


MÉTODOS:

O arqueólogo tem que definir com clareza sua região de trabalho, uma vez selecionada a área geográfica de atuação, ele passa a estabelecer o tema da pesquisa que irá desenvolver, bem como os métodos de investigação que deverá empregar para buscar determinadas respostas
Alguns vestígios são encontrados na superfície dos terrenos e as equipes, andando pela área, reconhecem peças espalhadas pelo chão. Outros, estão enterrados em profundidades que variam de poucos centímetros a alguns metros. Neste caso o arqueólogo realiza uma série de sondagens manuais, utilizando enxadas, pás e outras ferramentas semelhantes. Em algumas situações se justifica, inclusive, o emprego de maquinário de porte, como retro-escavadeiras e pás-carregadeiras.
Para conhecer o que está enterrado, o arqueólogo também conta com recursos sofisticados, que "enxergam" o que está abaixo da superfície. Existem diversos métodos e aparelhos desenvolvidos pelos geofísicos, como o GPR (Ground Penetrating Radar): através da emissão de ondas magnéticas, ele detecta a presença de corpos enterrados, fornecendo um "raio-X" do subsolo. Estes aparelhos são ainda úteis para definir áreas mais favoráveis de escavações, ou então para indicar porções que devem ser preservadas para pesquisas futuras. . Poderá fazer uso também de imagens de satélite, fotografias aéreas e mapas.
Tendo identificado um sítio arqueológico, o pesquisador realiza uma série de atividades, como o preenchimento de fichas de cadastro, a medição da área, descrição dos vestígios, fotografias e, em alguns casos, coleta de peças.
A busca de sítios arqueológicos constitui, entretanto, apenas uma primeira etapa da pesquisa. Muitas outras atividades de campo ainda estão por vir, sem falar nas análises e estudos de laboratório.

·                     Escavação arqueológica constitui-se da aplicação de métodos e técnicas, a observação aguçada é extremamente necessária, pois só assim o pesquisador compreenderá o achado.
O arqueólogo é o único profissional qualificado para escavar e analisar um sítio arqueológico. Para se escolher o melhor lugar onde realizar a escavação, deve-se analisar as condições do solo, que deve estar mais conservado possível, para ser adequadamente estudado.
Desde o início, a noção de escavação esteve fortemente vinculada ao processo geológico de estratificação do solo, que obedece à denominada "lei da superposição": as camadas superiores do terreno seriam mais recentes, enquanto camadas inferiores mais antigas.
Geralmente data-se um artefato levando em consideração sua localização nas camadas da escavação. Achados que se encontram na superfície do buraco são recentes, já objetos que mais profundos, mais antigos. O arqueólogo leva em conta também as possíveis agressões que o terreno sofreu durante as sucessivas ocupações do local.
Assim, a leitura destas camadas (ou estratigrafia) fornece o que os arqueólogos denominam de "cronologia relativa": qual ocupação humana veio antes, qual veio depois. A partir daí, tem-se um primeiro ordenamento na cronologia da área, definindo uma sucessão histórica das ocupações.
No sítio arqueológico geralmente é montado um mini-laboratório, para que se possa fazer as primeiras observações e catalogações dos achados. Por fim os cientistas deixam uma porção do sítio intacta, a mesma é chamada de área testemunho. Estará permitindo uma retomada das pesquisas no futuro, a partir de novas abordagens e talvez dispondo de novas tecnologias. O arqueólogo é um estudioso voltado à preservação da herança cultural humana.
A escolha do sítio a ser escavado é feita com rigor. No topo da lista estão aqueles mais bem conservados, que apresentam menos interferências, e que reúnem um bom potencial em fornecer dados importantes para a pesquisa. Escavar um sítio significa concentrar, num único local, uma grande quantidade de esforços, envolvendo equipe, tempo e, obviamente, verbas.
Quanto à diferentes técnicas de escavação podemos destacar as que analisam as mudanças que ocorreram entre as ocupações humanas ao longo do tempo (também chamada de estratégia vertical) e as que objetivam entender formas de ocupação do espaço, recuperando as atividades realizadas no sítio por um determinado grupo (ou estratégia horizontal). Neste caso, é aberta uma extensa área de escavação, onde é possível reconhecer a estrutura e o uso que aquele espaço teve, no passado: a área de cozinha, a área de lascamento, a área de enterramento de mortos, e assim por diante.
A partir daí, é possível reconhecer atividades e comportamentos relacionados ao cotidiano daquele grupo de pessoas. Muitas vezes os arqueólogos combinam estas duas estratégias, promovendo escavações que forneçam informações tanto no plano vertical quanto no horizontal.
A escavação, mesmo quando feita com grande cuidado, é uma atividade destrutiva: ao retirar as peças do solo, o arqueólogo está "apagando" os vestígios de nosso passado. Isto quer dizer que não é possível repetir uma escavação, e por esta razão o pesquisador precisa realizar uma documentação bastante precisa e rigorosa. Assim fichas, diários, mapas, plantas, desenhos, fotografias, filmagens e depoimentos constituem, juntamente com o conjunto de peças coletadas, os ingredientes para o estudo em laboratório.

·                     Arqueologia histórica se volta aos vestígios de ocupações humanas do período Pós-Conquista, ou seja, a partir de abril de 1500. Preocupa-se em reconstituir os acontecimentos que envolvem os povos formadores da sociedade nacional: índios, europeus e negros. Ela permite que se tenha acesso a uma parte significativa da população, reconhecida através dos vestígios materiais que deixou, utilizando os mesmos métodos e técnicas das pesquisas arqueológicas convencionais.
As escavações indicam que a realidade era um pouco diferente da que nos foi passada pelos livros e, neste momento, a Arqueologia Histórica permite rever e precisar algumas interpretações do passado.
Outra contribuição diz respeito ao estudo e restauração de edifícios e espaços urbanos que fazem parte de nosso patrimônio histórico arquitetônico. Neste caso, as escavações ajudam a compreender as mudanças que as construções sofreram ao longo do tempo (acréscimos, reformas, modificações das plantas originais etc), auxiliando na preservação da memória cultural.

·                     Etnoarqueologia é a disciplina que procura entender de que forma o conjunto de objetos produzidos e utilizados por uma sociedade pode informar sobre o comportamento das pessoas, e toda a estrutura social, política e econômica a que se relaciona. Alguns pesquisadores buscam elementos de referência junto a sociedades vivas, principalmente as denominadas "sociedades tradicionais", como grupos indígenas, negros e caiçaras.
A partir de seus estudos, o etnoarqueólogo fornece modelos atuais de ocupação humana, que serão utilizados em contexto arqueológico para a construção de hipóteses de pesquisa. A isto se dá o nome de "analogia", que significa uma forma de leitura indireta do passado humano, através de situações observadas no presente. Procura também entender a maneira como estes vestígios materiais acabam se incorporando no registro arqueológico e documentam a maneira como os objetos são confeccionados pelos indígenas.
Por trabalhar junto com comunidades vivas, o Etnoarqueólogo tem acesso a todo um universo de comportamentos e evidências que o Arqueólogo ignora. E é este universo que ele pretende desvendar, procurando caminhos novos de pesquisa, fornecendo modelos explicativos e propondo metodologias mais adequadas de investigação, para que os pesquisadores possam compreender, cada vez mais, as alternativas e soluções encontradas pelas sociedades do passado.

·                     Arqueologia sub-aquática é pesquisa arqueológica sistemática em sítios submersos.
Alvos de intensa pirataria e saques desde tempos remotos, as embarcações partiam repletas de mantimentos e equipamentos para as travessias. A partir desses objetos, o arqueólogo extrai um grande arsenal de informações sobre a sociedade da época.
Os objetos pessoais dos viajantes fornecem pistas sobre sua posição social: seriam nobres, mercadores, presos ou escravos? E o que a embarcação transportava? Ânforas gregas, faiança portuguesa, recipientes de vidro? A análise desta coleção pode revelar preciosos aspectos sobre os mecanismos de troca da antiguidade: quais mercadorias eram comercializadas, qual a intensidade do comércio, quais as sociedades e pessoas envolvidas, as distâncias percorridas, e assim por diante.
Os naufrágios atuam como verdadeiras cápsulas do tempo para o estudo do material encontrado em terra firme já que, uma vez afundados e perdidos no fundo do mar, esses sítios arqueológicos submersos passam por menos alterações e perturbações, legando ao pesquisador um conjunto de objetos antigos extremamente bem conservados.
Mas a Arqueologia Subaquática não investiga apenas navios naufragados: existem sítios arqueológicos inteiros que se encontram cobertos pela água, e só através desta disciplina é que podem ser estudados.
Como o trabalho debaixo da água é lento, custoso e exige um esforço extra dos pesquisadores, é fundamental ter um bom conhecimento prévio da situação, otimizando as tarefas.
Uma das variáveis mais complicadas diz respeito à conservação das peças que permaneceram durante tantos anos dentro da água. O simples contato de alguns materiais com a atmosfera pode desencadear um rápido processo de desintegração. Assim, toda escavação subaquática precisa ser acompanhada de um bom laboratório, instalado nos próprios barcos de apoio. No momento em que as peças saem da água, são submetidas a rigorosas etapas de ambientação, evitando que se danifiquem e que todo o esforço vá, literalmente, por água abaixo.

·                     Arqueologia de contrato consiste na avaliação e salvamento do patrimônio arqueológico ameaçado por grandes empreendimentos.
A partir da década de 1980 a Constituição determinou que todo empreendimento que viesse provocar impactos definitivos ao ambiente fosse submetido aos "Estudos de Impacto Ambiental", que envolvem diferentes áreas de conhecimento, e conta com especialistas como biólogos, geólogos, antropólogos, além de arqueólogos.
O profissional realiza um levantamento preliminar da área projetada, avaliando os vestígios arqueológicos que ela contém e, a partir daí, produzir um diagnóstico do patrimônio cultural e histórico envolvido.
Deste profissional é exigida uma postura diferente daquele que trafega apenas nas Instituições de Pesquisa, já que ele lida com um contexto de mercado, e precisa tornar o resultado de suas pesquisas acessível para o público em geral.
A Arqueologia de Contrato dilatou o campo de atuação profissional do arqueólogo, porém, abriu um delicado e novo campo de discussão: o que merece ser preservado, e o que pode ser destruído? Quais os sítios arqueológicos que deverão ser escavados de forma intensiva, e quais receberão apenas trabalhos sumários? Até que ponto a identificação de um patrimônio arqueológico de alta significação poderia alterar (ou mesmo impedir) a implantação de um empreendimento?
É notável que o avanço crescente de hidrelétricas, estradas e outros empreendimentos permitiu que extensas áreas do território brasileiro, fossem estudadas. E não estamos falando de regiões inacessíveis, e sim de locais conhecidos pelo público como o litoral norte baiano, ou o centro de grandes metrópoles como Porto Alegre, Fortaleza e Salvador.
As discussões crescem, à medida que cresce a consciência dos homens em relação ao seu passado. O maior desafio da SAB (Sociedade de Arqueologia Brasileira) é o estabelecimento de normas éticas de conduta e a capacitação dos novos quadros de profissionais rumo à preservação da herança cultural brasileira. Afinal, temos importantes lições a aprender mundo afora, onde se vê que o desenvolvimento é totalmente compatível com a preservação do patrimônio cultural de uma nação.
 

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